29 de agosto de 2025
Olá, leitores!
Já pararam para contar quantos livros têm em casa? Mesmo aquele leitor que não é tão diligente com a rotina de leitura possui um ou outro exemplar especial guardado em seu cantinho. Afinal, quem lê sabe muito bem os prazeres que um bom livro pode proporcionar.
Entretanto, com as transformações do mercado, a maneira como praticamos a leitura mudou — e podemos dizer que ainda está mudando.
VOLTANDO NO TEMPO
O mercado editorial brasileiro sofreu muitos golpes ao longo dos anos. As pequenas livrarias de bairro foram desaparecendo, dando espaço às megastores: grandes lojas de departamentos que aprenderam a mesclar livros, brinquedos, produtos de papelaria, um cafezinho e até um espaço de lazer instagramável.
Com a chegada e a consolidação da Amazon, a dificuldade das megastores em competir com os preços — somada à preferência crescente dos leitores por receber suas compras em casa — levou à tentativa frustrada de concorrer com o e-commerce.
O período de isolamento social durante a pandemia foi apenas mais um agravante para o já delicado cenário dessas redes. Ainda que o crescimento tecnológico observado desde o início do século XXI já tivesse trazido a leitura digital, foi em meados de 2020, no início da pandemia da COVID-19, que a popularidade dos e-books disparou.
De acordo com uma pesquisa da Nielsen, coordenada pela Câmara Brasileira do Livro e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), em 2020 foram vendidos aproximadamente 8,57 milhões de exemplares de e-books e audiolivros, contra cerca de 4,74 milhões em 2019, demonstrando um crescimento de 81% em apenas um ano.
É importante saber que: A Câmara Brasileira do Livro apresenta estudos anuais do mercado editorial em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). As pesquisas são realizadas pela Nielsen Brasil e trazem um panorama do mercado do livro no país. São estas: Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro e sua Série Histórica, e Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro. Há, ainda, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, coordenada pelo Instituto Pró-Livro. (texto do site: https://cbl.org.br/pesquisas-de-mercado/)
Atualmente vemos o contínuo crescimento do acervo, vendas e faturamento dos e-books, ao passo que livros impressos não foram deixados de lado. Confira a tabela com dados retirados das pesquisas de 2019/2020 e 2023/2024:
VANTAGENS VERSUS DESVANTAGENS
Tanto o livro físico quanto o digital têm seus pontos positivos e negativos. Para cada leitor e para cada hábito de leitura, um formato pode corresponder melhor que o outro. Ainda assim, sempre é um bom momento para diversificar e conhecer novas formas de fazer aquilo que amamos, não é?
Vamos elencar as características de cada um deles:
VANTAGENS DO LIVRO FÍSICO
Preferido por muitos leitores das antigas — como eu —, o livro físico oferece uma experiência palpável e sensorial. Não há nada como segurar um exemplar nas mãos, observar os detalhes da capa e do interior, sentir o cheiro do papel... essas experiências, únicas do formato físico, tornam-no especial.
Esse conjunto de sensações também favorece a concentração na leitura. Imagine só: você está lendo um e-book no celular e, de repente, uma chuva de notificações daquele grupo que esqueceu de silenciar interrompe sua imersão? Esse incômodo simplesmente não existe quando temos um livro físico em mãos.
Podemos citar, também, o valor que um livro físico pode ter. E não estou me referindo ao valor para adquiri-lo em uma livraria ou e-commerce, mas o valor sentimental, colecionável e decorativo. Exemplares físicos bem cuidados podem ser transmitidos por gerações e tornarem-se verdadeiras relíquias carregadas de histórias além das páginas. Eles também podem ser colecionáveis, tornarem-se raros e valiosos com o tempo, além de servirem como um elemento decorativo de destaque que proporciona aconchego para o nosso cantinho de leitura.
As próximas características são um tabu, mas ainda assim merecem ser citadas: livros físicos permitem anotações, marcações e sublinhados que podem trazer uma leitura pessoal, rica e envolvente. Sei que muitos não gostam da ideia, mas livros físicos são excelentes para fazer anotações enquanto o estudamos.
São facilmente compartilhados com amigos. Sabemos muito bem que quando emprestamos um livro a alguém, existe uma chance de nunca mais o vermos. Livros podem levar tempo para serem lidos já que cada pessoa tem sua própria rotina e velocidade de leitura, fato que nos obriga a ter paciência para aguardar a devolução e que contribui para o esquecimento daquele que emprestou. Quem nunca escutou “Esqueci que era seu, mas ainda não terminei. Posso ficar mais um tempo com ele?”
Contudo a prática de emprestar livros físicos é uma excelente maneira de criar conexões ainda mais fortes com nossos amigos e familiares e pode se tornar um hábito saudável que elevará nossos relacionamentos.
Para finalizar, uma qualidade que cabe especialmente aos livros infantis e vale a pena ser lembrada: o desenvolvimento cognitivo. Para crianças é muito importante ter contato com o conjunto de elementos que o livro físico oferece. O contato direto com as palavras, com os desenhos e com as histórias contribuem para o seu aprendizado, desenvolvimento e memória.
VANTAGENS DO E-BOOK
Prático, econômico e pessoal, o queridinho dos leitores mais jovens vem conquistando cada vez mais espaço no coração de todos. O e-book surgiu, assim como tantas outras inovações tecnológicas, com o intuito de facilitar a vida em diversos aspectos. Afinal, quem poderia imaginar, anos atrás, que seria possível ter acesso a um vasto acervo de livros na palma da mão, sem sair de casa ou se preocupar se o exemplar desejado estaria disponível na biblioteca?
Os e-books podem ser acessados em diferentes dispositivos, como computadores, tablets, celulares e e-readers (dispositivos específicos para leitura, como o Amazon Kindle ou o Rakuten Kobo). Com apenas um aparelho leve e compacto, é possível carregar uma biblioteca inteira e ler de qualquer lugar, desde que haja acesso à internet — o que hoje não é difícil.
Outra vantagem é a possibilidade de leituras simultâneas sem complicação. Podemos carregar vários livros ao mesmo tempo e alternar entre eles conforme a vontade.
Além disso, os e-books são mais econômicos. Custam significativamente menos do que os livros físicos e oferecem acesso instantâneo após a compra. Por terem baixo custo de produção e distribuição, abriram portas para escritores independentes que, muitas vezes, encontram nas plataformas digitais alternativas mais acessíveis do que as editoras tradicionais. Assim, ferramentas de marketing digital — como promoções e gratuidades — favorecem tanto autores, que alcançam novos leitores, quanto o público, que pode descobrir histórias inéditas a preços baixos ou até gratuitamente.
Outro ponto importante é a interatividade. Diferente do receio de rabiscar um livro físico e se arrepender depois, nos e-books é possível ajustar luminosidade, cor de fundo, fonte e tamanho do texto, além de adicionar comentários, marcações e compartilhar trechos com outros leitores.
A acessibilidade também merece destaque: muitos e-books podem ser adaptados para pessoas com deficiência visual, com recursos de leitura em voz alta.
Por fim, os livros digitais podem ser atualizados facilmente, sem necessidade de reimpressão, e sua durabilidade tende a superar a do livro físico. Embora os dispositivos tenham vida útil limitada, os arquivos permanecem preservados e podem ser acessados de diferentes aparelhos.
A QUESTÃO DA SUSTENTABILIDADE
Não podemos deixar de lado o tema da sustentabilidade. O processo de produção e distribuição de um livro físico já evidencia o quanto é necessário consumir recursos para que ele chegue às nossas mãos. Da mesma forma, a fabricação de aparelhos eletrônicos também causa grande impacto ambiental, o que gera a dúvida: afinal, qual das duas opções é realmente mais sustentável?
Há quem defenda que a diferença no impacto ambiental entre um e outro seja pequena, especialmente para leitores ocasionais. Nesse caso, os livros físicos acabam sendo uma escolha mais ecológica. Já para quem consome uma grande quantidade de títulos ao ano, os e-books tendem a ser a alternativa mais adequada.
O fato é que estamos diante de dois produtos que afetam o meio ambiente de formas distintas. Os e-books reduzem o desmatamento e a produção de papel, mas sua fabricação e descarte envolvem poluição eletrônica e alto consumo de energia. Já os livros impressos dependem de árvores para a produção do papel e de combustível para transporte, o que resulta em emissão de carbono. Também podem gerar resíduos durante a produção e descarte, mas, em contrapartida, não consomem energia durante a leitura.
Existem, portanto, muitos pontos a considerar. No Brasil, por exemplo, a produção de papel utiliza madeira de reflorestamento, o que reduz o impacto do desmatamento. Já o livro digital, segundo inúmeros relatos, tornou-se um incentivador da leitura, aumentando o consumo de livros em geral — algo que, por si só, pode tornar os e-books mais vantajosos para um número maior de leitores e, consequentemente, para o meio ambiente.
Assim, a escolha mais sustentável depende diretamente do hábito de leitura de cada pessoa. Seja qual for a opção, a reciclagem é indispensável: o descarte adequado é um fator determinante para reduzir o impacto ambiental tanto dos livros físicos quanto dos digitais.
DESVANTAGENS DO LIVRO FÍSICO
Para quem já tem uma rotina de leitura, não é novidade lidar com uma série de empecilhos que podem influenciar a escolha entre o livro físico e o digital.
O livro impresso, embora muito admirado, tornou-se cada vez mais esporádico na vida do leitor moderno. Não há como negar: ele apresenta algumas desvantagens em relação ao e-book.
Um dos principais fatores é o peso e o volume. Apesar da existência das edições de bolso, carregar um livro pode ser incômodo. Imagine, por exemplo, um leitor cujo único tempo disponível para a leitura seja durante o trajeto para o trabalho ou em breves pausas ao longo de um dia agitado. Nem sempre é possível ter um livro físico à mão, mas o celular — que já reúne inúmeras funcionalidades — estará sempre presente, tornando a leitura digital mais prática.
Outro ponto importante é a questão do espaço físico. O aumento do custo de vida, a valorização de imóveis em áreas centrais e a busca por moradias menores impactaram diretamente no armazenamento de livros. As novas gerações passaram a repensar seus pertences, e a ideia de manter grandes bibliotecas em casa deixou de ser tão comum.
Além do espaço, há também a necessidade de manutenção. Livros exigem tempo para limpeza e organização, além de cuidados para preservar o papel, que é sensível ao desgaste e ao mofo. E tempo e espaço são justamente recursos cada vez mais escassos na vida contemporânea.
DESVANTAGENS DO E-BOOK
Uma solução inovadora para muitos pode não ser perfeita para todos. Dependendo da realidade de cada leitor, o livro digital apresenta desvantagens que podem torná-lo a última opção.
Entre os principais pontos, está a ausência do vínculo emocional que os livros físicos proporcionam. Para inúmeros leitores, a experiência sensorial de folhear as páginas e sentir o cheiro do papel é parte fundamental da leitura — algo que o e-book não consegue oferecer.
Outro aspecto é a distração. Mesmo com o modo avião ativado, celulares e tablets podem desviar nossa atenção com notificações inesperadas. Muitas vezes, nem percebemos o quanto estamos habituados a essas interrupções até que elas interrompam um momento de concentração durante a leitura.
O cansaço visual também é uma queixa frequente, sobretudo entre leitores que passam horas imersos em um livro. A exposição prolongada à luminosidade das telas pode provocar desconforto, ainda que existam recursos para atenuar esse efeito. Inevitavelmente, os olhos acabam protestando mais cedo do que aconteceria com um livro físico.
Além disso, os e-books dependem de energia elétrica e, em muitos casos, de conexão com a internet. Apesar de hoje termos facilidade em encontrar tomadas e wi-fi em diversos lugares, essa necessidade ainda é vista como uma limitação, especialmente para quem não dispõe de acesso constante. Soma-se a isso o custo dos dispositivos digitais, que pode ser um obstáculo significativo para alguns leitores.
Por fim, problemas de compatibilidade entre plataformas, aplicativos e dispositivos podem dificultar a experiência. Quem opta pela praticidade de ler em celular ou tablet pode enfrentar limitações técnicas que acabam atrapalhando a leitura.
Em suma, tanto o livro físico quanto o e-book apresentam vantagens e desvantagens que dependem do perfil e das necessidades do leitor. Enquanto o livro físico oferece a experiência tátil, o prazer sensorial e a possibilidade de colecionar exemplares, o e-book se destaca pela praticidade, portabilidade e acesso imediato a uma vasta biblioteca digital. A escolha entre um formato e outro, portanto, não deve ser encarada como uma disputa de superioridade, mas como uma questão de preferência individual e de contexto: cada leitor pode alternar entre ambos conforme a situação, aproveitando o melhor que cada formato tem a oferecer.