03 de maio de 2025
Olá, leitores!
Gostaria de complementar o artigo sobre sinopse (clique aqui para ler “Produzindo uma Sinopse”) com uma diferenciação importante, além de alguns exemplos que vão ajudá-los.
Existem meios para criarmos a suma de uma obra e cada um deles terá um foco, ainda que falem sobre a mesma produção. São eles a sinopse, a síntese, o resumo e a resenha.
Acompanhe o artigo para saber como distingui-los!
SINOPSE
Como já vimos, sinopse é um gênero textual expositivo que traz os principais pontos de uma obra, antecipando ao leitor uma visão geral sobre a trama. Ela deve ser clara, concisa e objetiva, destacando apenas as informações essenciais e sem estragar a surpresa e o todo da emoção que experimentamos durante a apreciação, seja de um livro, uma peça, um filme, etc.
Uma das principais diferenças entre a sinopse e os gêneros textuais que seguem abordados neste artigo é que a sinopse é escrita pelo autor da obra, enquanto síntese, resumo, resenha e fichamento são criados por quem leu ou assistiu à mencionada obra.
A sinopse é, além de tudo, uma poderosa ferramenta que auxiliará no marketing da obra, atraindo a atenção dos potenciais leitores. Para saber mais detalhes sobre a sinopse, aconselho que leia o artigo “Produzindo uma Sinopse” — link acima.
EXEMPLO:
Sinopse do livro “Razões e Memórias”:
Lidar com a morte pode ser algo traumático, ainda mais quando você tem apenas seis anos de idade. Foi assim para Matheo Gruber que, há onze anos, perdeu sua mãe e, ao mesmo tempo, um pai carinhoso que nunca mais foi o mesmo, encontrou, em seu melhor amigo, Adam Gesser, uma maneira de preencher aquele vazio.
Mas, agora, com a notícia de que Adam embarcou em um relacionamento amoroso com uma velha conhecida da escola, Matheo precisa se concentrar em sua independência.
Com o apoio de seus amigos, a carreira como professor de matemática se tornará o seu grande objetivo, assim como proporcionará alegrias que ele jamais imaginava poder viver de novo. Contudo, pelo percurso, ele tropeçará em fatos sobre o passado de sua mãe igualmente antes nunca imaginados e terá que aprender a lidar com dores há muito trancadas em seu interior.
SÍNTESE
A síntese é um gênero textual em texto corrido, coeso e coerente, que deve apresentar linguagem denotativa e uniformidade no texto. O seu objetivo é condensar as ideias principais de uma obra de maneira impessoal, não trazendo opiniões ou transcrições do original.
Diferente do resumo, a síntese requer entendimento e interpretação do texto-base. Assim sendo, para a sua confecção, o leitor deve compreender o contexto, selecionar o que é relevante e reformular as informações do original com base em sua interpretação, reduzindo-o em tamanho. É importante destacar que a síntese é mais sucinta que a sinopse e o resumo, principalmente.
EXEMPLO:
O livro “O Diário de Anne Frank” foi escrito pela mesma durante o Holocausto e publicado em junho de 1947, dois anos após sua morte. A obra é um relato dos dias vividos pela autora durante o período conturbado do holocausto, tanto quando da perspectiva de uma jovem sobre a vida, sobre as mudanças pelas quais seu corpo passava, seus familiares, conhecidos e seus sentimentos profundos em meio à perseguição nazista. Dessa forma, seu diário tornou-se um importante vestígio sobre a guerra do ponto de vista das vítimas.
RESUMO
Atire a primeira pedra quem nunca esqueceu de que, no dia seguinte, no colégio, teria que fazer uma prova sobre um livro do qual não sabia nem o nome do autor... Nesses momentos de agonia, perto da noite virar dia, nós corríamos para o celular ou computador para procurar um resumo da obra e tentar, pelo menos, manter-se dentro da média das notas.
Diferente de uma sinopse, que busca atrair o leitor e deixar um mistério no ar a respeito da conclusão daquela história, ou da síntese, que explora a interpretação do leitor sobre o texto-base, o resumo procura condensar todo o conteúdo de uma obra, mantendo palavras, estilo e ordem do descrito, da melhor forma possível.
Ele apresenta os fatos centrais de uma obra, como os personagens, a trama, os conflitos, os temas e as cenas, da forma como são descritos na obra e, mesmo que possamos dizer que o resumo é uma versão mais detalhada da sinopse, ele não faz uso das mesmas ferramentas que ela.
O resumo é sobre transcrição, enquanto a sinopse é sobre atração e, a síntese, sobre interpretação.
EXEMPLO:
Resumo do conto “Feliz aniversário”, de Clarice Lispector.
Em Copacabana, na casa de Zilda, escolhida como a única entre os seis irmãos disposta a cuidar da aniversariante, Dona Anita, que completava, na ocasião, 89 anos de vida, realizava-se uma festa em comemoração a tal data, inteiramente organizada por Zilda.
Ela arrumara todos os preparativos logo depois do almoço, incluindo sua mãe que, desde então, deixara sentada diante da mesa, onde estavam dispostos o bolo, os sanduíches e os croquetes.
Pouco a pouco, a família chegava para a comemoração.
Primeiro, a nora, que vinha de Olaria, sem o marido, que não queria ver os irmãos; ultrajada, permaneceu emudecida numa das cadeiras, rodeada pelos filhos. Em seguida, a nora de Ipanema, com dois netos e a babá, sentou-se em fila oposta à nora de Olaria, fingindo ocupar-se com o bebê. Quando as duas já não aguentavam mais o silêncio e o tédio do momento, os demais convidados chegaram.
Nenhum dos presentes sabia dizer se Anita estava realmente feliz, mas, com respeito e admiração, olhavam, atentos, a aniversariante na cabeceira da mesa. A velha não se manifestava. Com o passar do tempo, todos assumiram que não adiantava tanto esforço e, como na presença de um surdo, fizeram a festa por si.
Com presentes inúteis e o desagrado de Zilda, que os guardava, irônica, a mesa já suja, copos maculados e, ainda intacto, o bolo, eles cantaram, com um pouco de desordem, mas alto como soldados, à aniversariante. Com incentivo, a força e a destreza de uma assassina, Anita talhou o bolo, surpreendendo a todos.
Ela era a mãe de todos, ainda que sufocada pela presilha de cabelo, impotente à cadeira, desprezava-os, com exceção do neto Rodrigo, carne de seu coração. O rancor roncara em seu peito vazio e a raiva a sufocava quando pediu bruscamente um copo de vinho. Surpresos, os convidados entreolharam, sorrindo cegamente mesmo depois de esperarem uma tempestade de Anita pela miséria do vinho que a haviam servido. Ela manteve-se em silêncio, entretanto, sem tocar no copo.
A festa estava terminada. Vazios e de sorrisos amáveis, cheios de lanches que não alimentavam, mas matavam a fome, e acompanhados de crianças vigorosas e já imundas, junto à porta, os convidados despediam-se. Sem que pudessem imaginar o que Anita pensava, cada um lhe deu um beijo, como se sua pele infamiliar fosse uma armadilha. Ela se perguntava, muda, se o bolo substituíra o jantar.
Seu punho severo, fechado sobre a mesa, dizia que era preciso que se saiba que a vida é curta. A verdade é um relance. Sua nora, perplexa e desesperada, implorava à velhice um sinal de que uma mulher deve, em um ímpeto dilacerante, agarrar a sua derradeira chance de viver, mas, novamente olhando para a sogra, via apenas uma velha à cabeceira da mesa suja. O relance passara.
Com o mal-estar da despedida, lembrando do irmão que falecera e era bom em discursos, sem saber o que dizer, os irmãos presentes agradeciam o privilégio e o orgulho de poder se reunir em torno da mãe, enquanto um deles, José, esperava de si a perseverança e a confiança para uma próxima frase que não vinha.
Subitamente veio a alusão de dizer “até o ano que vem, diante do bolo aceso!” para sua mãe, fazendo com que todos ali se olhassem rindo, vexados e felizes. “No ano que vem nos veremos, mamãe!”.
Adeus, até outro dia, precisamos nos ver, apareçam, todos repetiam rapidamente, enquanto se perguntavam se a velha resistiria mais um ano e desejavam, sonhadores, que completasse uma data bonita, pelo menos noventa anos. E, sobre as escadas, ainda diante da mesa, a velha se perguntava se não teria jantar, sendo a morte o seu mistério.
RESENHA
A resenha é um gênero textual que analisa, de maneira crítica ou não, uma produção, seja um livro, um filme, uma peça de teatro, etc. Para este gênero, é como costumam dizer: não há certo ou errado!
A resenha pode ser curta ou longa e apresenta a inserção de opiniões e pontos de vista do resenhista sobre o que está sendo avaliado, seja positiva ou negativa. A análise aprofundada do conteúdo da obra, como do tema e do estilo usado para escrevê-la, pode ser descritiva ou opinativa, incluindo seu resumo, mas com o foco voltado para a interpretação e a avaliação.
Seu principal objetivo é influenciar na tomada de decisão para o consumo do conteúdo cultural alvo da resenha. Ela, como já mencionado, resume os principais pontos abordados, analisa tais pontos e a recomenda ou não. Para isso, além da expressão pura da opinião do autor da resenha, podem revisitar elementos de diversas fontes que reforcem o seu julgamento.
EXEMPLO:
ATENÇÃO! O exemplo a seguir foi retirado do blog Mundo Educação UOL. Link abaixo para consulta do artigo completo sobre resenha.
mundoeducacao.uol.com.br/gramatica/resenha
RESENHA DESCRITIVA:
TITANE. Direção: Julia Ducournau. Produção: Kazak Productions, Frakas Productions, Arte France Cinéma, VOO, BeTV, 2019. 1 vídeo (168 min.), son., color.
A francesa Julia Ducournau retorna em mais uma direção após diversos elogios e críticas positivas por Raw (2016). Agora, a obra do momento é Titane. Lançado em julho de 2021, Titane é um thriller de suspense e horror sobre uma personagem (Alexia) que sofreu um acidente de carro na infância e precisou colocar uma placa de titânio na cabeça. Após essa breve introdução, o filme faz um salto temporal com a personagem já adulta, mas que desenvolveu uma curiosa paixão por carros e um certo desprezo pelas pessoas.
Após uma série de assassinatos cometidos por Alexia, ela se disfarça e se encontra com um pai que procurava o filho desaparecido por mais de dez anos. Assim, o pai acolhe Alexia como sua filha e lhe oferece amor no lugar da violência e desprezo que a protagonista havia desenvolvido ao longo de sua vida.
A obra de Julia Ducournau apresenta, além de um enredo cheio de personagens complexas, uma estética neon e uma trilha sonora que faz uma mescla de gêneros musicais que vão desde hardrock à tranquilidade do blues. As escolhas renderam à diretora uma série de prêmios e avaliações positivas pelo enredo e pela composição técnica da obra.
RESENHA CRÍTICA:
TITANE. Direção: Julia Ducournau. Produção: Kazak Productions, Frakas Productions, Arte France Cinéma, VOO, BeTV, 2019. 1 vídeo (168 min.), son., color.
A francesa Julia Ducournau retorna em mais uma direção após diversos elogios e críticas positivas por Raw (2016). Agora, a obra do momento é Titane. Lançado em julho de 2021, Titane é um thriller de suspense e horror sobre uma personagem (Alexia) que sofreu um acidente de carro na infância e precisou colocar uma placa de titânio na cabeça. Após essa breve introdução, o filme faz um salto temporal com a personagem já adulta, mas que desenvolveu uma curiosa paixão por carros e um certo desprezo pelas pessoas.
Após uma série de assassinatos cometidos por Alexia, ela se disfarça e se encontra com um pai que procurava o filho desaparecido por mais de dez anos. Assim, o pai acolhe Alexia como sua filha e lhe oferece amor no lugar da violência e desprezo que a protagonista havia desenvolvido ao longo de sua vida.
A obra de Julia Ducournau apresenta, além de um enredo cheio de personagens complexas, uma estética neon e uma trilha sonora que faz uma mescla de gêneros musicais que vão desde hardrock à tranquilidade do blues. As escolhas renderam à diretora uma série de prêmios e avaliações positivas pelo enredo e pela composição técnica da obra.
Walter Benjamin, em seus estudos sobre a arte na contemporaneidade, adiantou que uma arte que apenas representa coisas (principalmente o belo, de Platão) não se enquadra mais no conceito de arte. Para o filósofo, a arte, hoje, precisa incomodar o seu espectador. Titane é a arte contemporânea nos moldes atribuídos por Benjamin.
Tudo incomoda na obra de Julia Ducournau, seja as cenas de violência com ares de Tarantino ou o humor aparentemente desconexo da personagem em suas repentinas ofensivas no início da obra. Por falar na personagem, é nela que reside o maior estranhamento e incômodo. Alexia gera náusea e angústia naqueles que a assistem. A diretora expõe o lado mais podre da condição humana e, ainda assim, demonstra que é possível transformar violência em amor.
Obrigada pela leitura e vejo vocês no próximo artigo!